quarta-feira, 18 de maio de 2016

A Paz




É o mais precioso legado que recebemos dos nossos pais, avós, e é a mais valiosa herança que, se o Mundo e os seus homens e mulheres bem gerirem os prementes e incontornáveis conflitos e desafios, deixaremos à nossa prole, aos nossos amados filhos.
Em casa propus aos meus Rapazes: - Vamos falar de Paz. O que é a Paz? Gostava que me desenhasses a Paz.

Passados 30 minutos, tinha uma dezena de trabalhos sobre a guerra, apontamentos imaginados e fragmentados, obras onde se vêm armas e balas, lanças e espadas, e tudo o mais que a cultura visual dos seus jovens olhares convocava justamente, porque em oposição, sobre o tema que ali lhes propunha.

Imagens inocentes, sem dúvida, mas retratos de conflitos, de violência ainda sem sinais de dor ou sofrimento mas também alheadas da empatia com o outro ou das iconografias associadas à Solidariedade ou ao Amor.

Foi nesta altura que, enrascado, pensei se teria sido sensato incluir o Museu do Exército e o Museu da Marinha no nosso tradicional itinerário de vadiagem por Lisboa, que já incluía o Museu dos Coches, o Museu da Eletricidade, o Museu de Arte Antiga, a Gulbenkian, o Jardim Zoológico, e o Museu de História Natural, com o seu Borboletário e todo o seu incrível manto de diversidade botânica.

Afinal, se tivesse ficado pelas borboletas, talvez não tivesse que atravessar esta angústia e estupefação de pedir uma coisa e receber o seu oposto.
Ou talvez não… A Arte é afinal o lugar privilegiado para a catarse e para a mais livre expressão, sobretudo do que é incomportável e inaceitável, noutro contexto senão o de uma folha de papel ou superfície de uma tela.

Suponho que os meus Filhos saibam mais do que aquilo que eu lhes ensino, pelo que achei aceitável a proposição de que estes desenhos não seriam enfim respostas fechadas ao desafio, mas antes perguntas abertas, aquelas que a sua saudável e insaciável curiosidade lhes suscitava, face à consciência que já têm sobre o Mundo em que vivemos.
Pensei e ocorreu-me uma alternativa.

- Vou reformular a minha proposta – disse-lhes.
- Está ok, aceito, vamos desenhar livremente, mas vamos falar de Paz, de como ela é preciosa e quão valiosa é a sua construção. Nesta nossa conversa pintarei também, em diálogo convosco.

Depois convidei algumas famílias para a mesma proposta criativa, com fim à reunião de um número incontável de obras.
Pedi ajuda para fazer uma seleção e convidei amigos e colegas para refletir sobre o produto da experiência.

“Vamos falar de Paz” é o título da mostra que agora se propõe.
Será uma seleção de obras de filhos em diálogo com as obras dos pais. O mote é o mesmo, os caminhos são diferentes e o destino confunde-se com os seus destinatários.

O destino somos todos nós. O destino são as nossas razões e corações, porque é com estes instrumentos que edificamos a nossa Humanidade e porque há conversas demasiado importantes que importam fazer, repetir, repercutir e perdurar.

“E a pomba voltou a ele à tarde; e eis, arrancada, uma folha de oliveira no seu bico”
Gênesis 8:11


Nuno Quaresma
25 de Abril de 2016

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